8 lorotas sobre a mecânica do seu carro que você não deve acreditar
Na Internet você encontra muitas dicas e truques que, na verdade, são farsas que podem fazer você perder tempo e dinheiro: desde mecanismos que prometem extrair energia do nada até formas pitorescas de abrir seu carro usando o celular...
Para evitar cair em lorotas, recomendamos sempre usar o bom senso. Informações (no caso seriam desinformações) e promessas muito mirabolantes, "boas demais para ser verdade", são sim dignas de desconfiança. Não existe almoço grátis - diz o ditado.
Portanto, antes de acreditar cegamente em qualquer boato ou fake news, verifique se a fonte da informação é segura e faça um exercício de imaginação tentando desvendar alguma maldade por trás da notícia.
Abaixo, desvendamos 8 boatos mecânicos para ajudar você a ser mais crítico(a) com as níticias do mundo automotivo. Vamos lá!
1 - Abra carros com truques e celulares
Em que consiste: Conselhos sobre como abrir um carro quando não temos as chaves que geralmente remetem a alguma solução estranha (a mais famosa é usar uma bola de tênis com um pequeno furo) ou tecnológica, como usar o telefone como repetidor de sinal uma segunda chave.
Onde está o problema? Qualquer sistema de bloqueio pode ter um bug conhecido que pode permitir que ele seja aberto usando um truque, um cheat. Sem ir mais longe, as fechaduras do Ford antigo abrem muito bem com uma chave de fenda... ou com a chave de outro Ford (já que as combinações são limitadas; o mesmo acontece com a Renault). No entanto, esses truques não podem ser extrapolados para todas as fechaduras e suas versões genéricas são fraudes.
Da mesma forma, é possível construir um repetidor para captar o sinal de um comando e utilizá-lo, remotamente, para abrir um carro. No entanto, um celular não consegue receber e emitir nas frequências usadas pelos controles do carro. Mesmo que fosse, numa chamada de voz o sinal de um rádio controle nunca será captado e enviado - os mesmos são criptografados.
2 - Consumo?
Em que consiste: São dicas de como economizar reduzindo o consumo, assunto que sempre chama muita atenção. Os mais comuns referem-se ao uso do ar condicionado, do câmbio e do acelerador. Produtos milagrosos capazes de magnetizar, ionizar ou... (insira aqui o infinitivo científico de sua preferência) combustível também são recorrentes, aumentando seu desempenho.
Onde está o problema? Para conseguir o máximo alcance, esses boatos ampliam, simplificam ou deturpam um conceito científico. Por exemplo, é verdade que a forma mais eficaz de arrefecer o habitáculo de um automóvel que esteve ao sol é conduzir alguns minutos com os vidros abertos para que a temperatura interior e exterior seja igual, ou para que o consumo aumente com ar condicionado ligado. Mas as diferenças são muito pequenas, da ordem de décimos de litro a cada 100 km.
Quanto aos produtos milagrosos, existem magnetização e ionização, mas o combustível é insensível a eles e esses produtos não têm impacto na redução do consumo. Para completar, prometem-nos sempre economias incrivelmente elevadas, quando reduzir o consumo é muito difícil. Pense que reduzir o peso de um carro em 10% se traduz numa economia de cerca de 5%.
Como sempre escrevemos aqui, a melhor maneira de poupar combustível (e também em gastos extras com manutenção corretiva), é manter a manutenção em dia! Pneus calibrados corretamente, bicos injetores e filtro de ar limpos, velas de ignição em bom estado e até mesmo a integridade do sistema de arrefecimento contribuiem para econimia com combustível e manutenção. Promessas milagrosas são boato. Cuidado.
3 - Quantidade de combustível
Em que consiste: São boatos que se referem à quantidade de gasolina que as bombas dispensam, à possibilidade de ela se misturar ao ar ou enfatizam que a temperatura do combustível tem impacto direto na sua densidade e que, por esse motivo, é melhor reabastecer quando estiver frio, para que entre mais quantidade.
Onde está o problema? É verdade que uma bomba pode ser adulterada, mas todas passam por uma inspeção, fato comprovado por um selo que é afixado em cada bomba. Durante esta inspeção, verifica-se que a quantidade de combustível dispensada corresponde à carga e, claro, seria detectada a presença de ar ou espuma. Se quiser abastecer com tranquilidade, verifique se a sua bomba está com o lacre intacto e é recente.
Também é verdade que a gasolina (assim como o álcool ou o mercúrio num termómetro) se expande com o calor. Como, por conveniência, a gasolina é vendida em litros, pode haver alguma variação entre o volume abastecido e os quilos de combustível colocados no tanque. O detalhe que a farsa omite é que não existe relação entre a temperatura ambiente e a do combustível, que fica armazenado em tanques subterrâneos que, como no caso das cavernas, permanecem a uma temperatura constante ao longo do dia.
4 - Emissão de poluentes
Em que consiste: Este conjunto de declarações falsas tem como fator comum colocar um grande coletivo de carros no mesmo saco com o intuito de gerar facilmente ódio e rejeição. Desta forma, podemos constatar desde o fato dos automóveis a diesel poluirem muito até que os automóveis eléctricos emitem mais CO2 do que os convencionais ao longo da sua vida.
Onde está o problema? Na generalização. Se escolhermos a amostra com habilidade, todas as afirmações acima (e seus opostos) podem ser verdadeiras. Por exemplo, é tão verdade que os motores diesel antigos poluem muito como os de última geração praticamente limpam o ar. É também verdade que o fabrico de baterias exige muita energia e que, se esta não for de origem renovável, e o carro eléctrico não percorrer muitos quilómetros durante a sua vida, o balanço de emissões de CO2 pode ser semelhante ao de um carro convencional.
Mas tal afirmação ignora o facto de que as baterias podem ser fabricadas com electricidade verde ou que os carros eléctricos não emitem poluição local, pelo que serão sempre “mais verdes” do que as suas alternativas de motores de combustão. Outra armadilha comum é omitir o tipo de poluente, utilizando apenas a expressão “emite”. Por exemplo, um motor diesel “emite” menos CO2 do que o motor a gasolina equivalente.
5 - Interiores cancerígenos
Em que consiste: São fraudes que garantem que o interior do seu carro emite este ou aquele produto terrivelmente prejudicial à saúde , principalmente quando o habitáculo está em alta temperatura.
Onde está o problema? As cabines são construídas com plásticos, que são misturas de polímeros e aditivos. Alguns desses produtos apresentam certa volatilidade e odor característico, sendo responsáveis ??pelo aroma de ‘carro novo’. O truque é associar o cheiro a doenças graves, ignorando que essa relação depende do composto e da concentração.
Os plásticos podem liberar substâncias potencialmente nocivas, como benzeno e formaldeído. No entanto, para que se tornem uma ameaça, é necessário ultrapassar determinados limites de exposição prolongada, o que não acontece em nenhum automóvel. Além disso, existem organizações, como a TÜV ou a Oekotest, que certificam que os níveis de compostos nocivos e alergénios no interior dos automóveis são quase indetectáveis.
6 - Sistemas de segurança
Em que consiste: São rumores falsos que geralmente se referem à obrigatoriedade de sistemas que teriam um impacto radical na condução. Por exemplo, repete-se incessantemente que os carros terão um limitador automático que evitará ultrapassar o limite de velocidade na estrada, mesmo em ultrapassagens.
Onde está o problema? Estes rumores nascem da leitura desinformada de documentação oficial sobre legislação futura. Por exemplo, é verdade que houve um projeto elaborado por um grupo de peritos que recomendava a introdução de um limitador automático de velocidade nos automóveis. Este é um relatório encomendado pela UE e pela ONU e tem uma enorme aparência de credibilidade. No entanto, foi apenas uma "Carta aos Magos" de um grupo de especialistas.
Atualmente, não temos tecnologia acessível e confiável, capaz de determinar qual é o limite de velocidade em absolutamente todas as estradas. Com isso, a lei final esclarece bastante a proposta dos especialistas, reduzindo-a à obrigatoriedade de um aviso visual (e desconectável) de que o veículo acredita que a velocidade máxima está sendo ultrapassada. O mesmo vale para a questão do Alcolock (sistema bafômetro que impede motorista alcoolizado de dirigir) ou da caixa preta.
7 - Acidentes e explosões
Em que consiste: Estas fraudes baseiam-se no exagero dos perigos das diferentes tecnologias, especialmente as novas e desconhecidas, e ultimamente estão preocupadas com o risco de incêndio representado pelos carros eléctricos ... embora o associado aos frascos de gel hidroalcoólico seja também muito difundido, com perigo de incêndio.
Onde está o problema? São exageros baseados em fatos específicos. É verdade que as baterias dos carros elétricos apresentam risco de incêndio se, por exemplo, sofrerem danos físicos em consequência de um acidente, e que é um incêndio difícil de apagar. Mas o risco é muito menor do que a ignição da gasolina armazenada no tanque de combustível.
No caso do gel hidroalcoólico, não há sequer precedentes que sustentem a teoria. As soluções hidroalcoólicas incorporam álcool suficiente para serem inflamáveis, por isso apresentam no rótulo o pictograma de advertência correspondente. Porém, é impossível que o interior de um carro atinja temperatura suficiente para a ignição do gel hidroalcoólico. Na verdade, é um produto difícil de acender: nem mesmo a brasa de um cigarro é suficiente para acendê-lo.
8 - Sobre confiabilidade
Em que consiste: A técnica consiste em colocar em dúvida a confiabilidade dos sistemas de propulsão quando estes são feitos para trabalhar próximos aos seus limites operacionais . Por exemplo, girar em rpm muito baixas ou descarregar a bateria ao mínimo.
Onde está o problema? Ao omitir que o fabricante já tomou o cuidado de estabelecer esses limites de funcionamento de tal forma que seja difícil quebrar os elementos cobertos pela garantia. Por exemplo, quando um carro elétrico diz que sua bateria está completamente cheia ou vazia... significa apenas que o fabricante não permite mais enchê-la ou esvaziá-la para proteger sua confiabilidade. O mesmo vale para a velocidade do motor. É tão confiável rodar a 1.000 rpm quanto a 3.000 rpm. É claro que às 1.000 rpm as coisas acontecem: o motor soa estranho, quase não há torque disponível e a resposta do acelerador é fraca... mas é isso. O único efeito colateral de acelerar o motor é economizar combustível.
É verdade, por outro lado, que tomar certos cuidados e ter uma condução conservadora pode prolongar a vida útil do motor, protegendo elementos sujeitos ao desgaste e ao envelhecimento, e que não estão abrangidos pela garantia obrigatória ou comercial, como a embreagem.